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O consumo coletivo nos traz utilidade?

Por Gui Tailer.


O consumo de grandes mídias se expandiu em sua forma coletiva devido à internet, sejam novelas, séries, reality shows e até as lives, de certa forma ver algum programa se tornou uma experiência compartilhada, isso não é novo em si, porém a forma que está sendo compartilhado e comentado sim!


Hoje em dia mesmo que você assista algum programa sozinho é bem possível que em seguida irá comentar com alguma pessoa ou ver alguém comentando sobre ele. Isso oficialmente não faz dela uma experiência coletiva, porém em uma época onde a globalização e as redes sociais tornaram a comunicação quase instantânea, o ato de ver um programa sozinho e não comentar sobre ele é meio difícil. Por isso muitas vezes passamos mais tempo falando sobre determinada mídia do que realmente vendo este programa, mas me pergunto se estamos só falando ou realmente debatendo sobre estes programas?


Essa vontade de conversar - influenciada pelas redes sociais - causa um efeito coletivo, que é a conversa excessiva sobre determinado programa em todo lugar, ou pelo a impressão de que está em todo lugar, abre certas questões sobre o que estamos consumindo e como estamos consumindo. Pois agora estamos vendo, lendo e ouvindo coisas que nos representam? E se representam essas mídias realmente são úteis para nossas vidas? Além do mais, essas mídias enquanto meios coletivos trazem alguma coisa de bom para a sociedade?


É possível ver que dentro de toda mídia se tem uma influência cultural, essa cultura, irá em boa parte definir as características do produto, assim como por quem e como este será recebido pelo público, um fenômeno que justifica isso seria a chamada Indústria Cultural, o qual Theodor W. Adorno define como o uma série de meios que as mídias usam para apaziguar os nervos e alienar uma população, seja desde entretenimento simples, até técnicas de desvio de atenção para coisas menos importantes. Um exemplo facilmente citado é a programação das emissoras de televisão, as quais tendem a passar os jornais e em seguida colocar um programa de entretenimento - novelas, filmes, talk shows - quase como uma forma de anestesia psicológica e coletiva.


Esse raciocínio de Adorno surge durante meados da Segunda Guerra Mundial, por si só era um tempo onde a manipulação de programas se fazia muito presente no mundo, seja na Alemanha, EUA, Rússia ou demais países envolvidos, seu pensamento hoje em dia ainda é útil, mas tendo a acreditar que as coisas mudaram um pouco. Não me refiro em direto a Indústria Cultura em si, mas sim a como as pessoas usufruem das mídias e raciocinam sobre elas, hoje em dia existe um debate muito mais específico e consciente sobre o consumo e tenho em mente que a internet ajuda neste, no maior digo que a internet é o principal protagonista dessa discussões.


É inegável que a internet é a maior biblioteca de informações do mundo, que qualquer pessoa pode procurar um livro ou artigo sobre determinado assunto, refletindo sobre ele em seguida - ou não - isso permite que as pessoas adquiram mais conhecimento - útil ou não - dependendo delas mesmas, permite também que essas pessoas discutam e aprenderam mais ainda, seja sobre a sociedade, seja sobre assuntos específicos e até sobre si mesmos.


As mídias, de forma óbvia transparecem essas discussões, querendo ou não, pois em grande parte são determinadas pela cultura, visto que a cultura em certo estágio inclui os conhecimentos, crenças, morais, arte, a lei e os costumes da sociedade como diz o antropólogo Edward B Tylor. Então se o conhecimento é debatido e a moral é questionada a cultura tende a mudar, ou pelo menos a se manifestar de formas diferentes.


Casos que exemplifica isso foi o recente caso do Big Brother Brasil 2020, onde a discussão sobre assédio sexual, feminismo e racismo se fez presente, em certo estágio dentro e fora do reality show, entretanto se parar para pensar a discussão não foi organizada nem tabelada pela emissora televisiva, a discussão veio dos próprios participantes do programa, seguida pelo público. Todos esses debates não são recentes, mas à proporção que eles tomaram foi importante, esse aumento do debate se deu é claro pela visão recorrente do programa assim como um acesso maior que informação que as pessoas têm devido à internet.


Outro debate interessante que se abriu é sobre representatividade, o BBB 2020 é outro exemplo válido. Dos vinte participantes do programa somente duas pessoas eram assumidamente negras, e quatro eram pessoas não brancas, isso em um país em que a população é composta de 56% de negros e pardos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ou seja, a representação da realidade brasileira não está no programa, por muito tempo isso foi ignorado, entretanto as pessoas perceberam isso e agora discutem. Outros programas de televisão trazem discussões coletivas sem o ser o foco e planejamento dos produtores, a série Game of Thrones trouxe uma discussão semelhante de representatividade não branca, até mesmo eventos como o Oscar e o Grammy tiveram seus critérios questionados nos últimos anos, algo que por si próprio não veio dos organizadores, mas sim do público e dos artistas.


Assim é visível que mesmo que uma mídia não vise uma discussão ela pode se fazer presente por causa do público, devido à internet o ato coletivo não é só, mas você ver o filme, falar também é coletivo por si só. Por isso é difícil acreditar que os grandes produtos de massa realmente sejam úteis, ou realmente proveitosos para a sociedade em si mesmos, eles são entretenimento no fim das contas e entretenimento não precisa ser culto. Porém estes produtos adquirem uma importância cultural além do previsto, uma importância vinda de certas discussões e essas discussões se mostram úteis e proveitosas à nossa sociedade.


Querendo ou não toda mídia tem o poder de ser muito maior que o planejado, mas resta somente a cada pessoa saber o quão um produto de massa pode agregar a ele, seja por uma discussão, seja pelo programa em si ou seja até pela influência cultural que ele traz ao seu redor, essa talvez seja a consciência que as pessoas, em coletivo ou não, precisam ter para não serem somente consumidores passivos perante toda a cultura de massa atual.

 

Referências

Vídeo: Game of Thrones o que vem depois do final- mimidias: https://www.youtube.com/watch?v=ltXES5wp-ok

Vídeo: A política no Big Brother Brasil - mimidias: https://www.youtube.com/watch?v=Hxf1-iIL86c

Vídeo: ADORNO E A INDÚSTRIA DA CULTRAL - Tempero Draga: https://www.youtube.com/watch?v=F98LqQt0Rd8

Artigo: Dia da Consciência Negra: números expõem desigualdade racial no Brasil - Folha uol: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/

Artigo: Nelson Rosário de Souza e Tatiane Salete de Almeida. Mara Telles no reality show: disputas discursivas acadêmicas sob os olhares do ‘Grande Irmão’, 2018.

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